terça-feira, agosto 22, 2006

Criança diz cada uma...(3)

No natal passado, Liam tinha um pedido especial para o Papai Noel...todo dia ele comentava, até que eu, de saco cheio de ouvir a mesma ladainha, disse:

- Liam, vamos combinar o seguinte: eu ligo pro Papai Noel e digo pra ele o que você quer ganhar, OK?

E ele responde, sem piscar os olhos:
_ Mas mãe, como você sabe o telefone dele?!!

Criança diz cada uma...(2)



Esta tirada foi há um tempo atrás. Liam comentou que me achava uma mãe muito querida porque eu sempre comprava brinquedos pra ele...então ele me olhou sério e disse:

- Mãe, quando eu crescer vou trabalhar e ganhar muito dinheiro. Aí vou comprar muitos brinquedos pra você, tá?

Criança diz cada uma...(1)

Hoje à tarde estava eu em casa assistindo com o Liam uma coletânea de videoclipes do U2 (The Best Of). Ele adora as músicas (e tem até sangue irlandês por parte de pai), então lá pelas tantas, o guri me diz o seguinte:

- Mãe, essas músicas são tão bonitas, né? Quando você morrer posso ficar com o DVD pra mim? (credo, Liam...eu espero ainda viver por muitos e muitos anos, rsrsrsrs)

sábado, agosto 19, 2006

Maternidade, mito do amor materno e outras divagações...


O nascimento do meu filho é um processo que estou vivendo até hoje e que encerrou uma fase muito importante da minha vida. Perdi muito da liberdade de antes, mas felizmente também ganhei muita coisa em troca -- coisas que hoje nem teria palavras para descrever, se me pedissem.

Costuma-se pensar que os pais ensinam os filhos mas descobri que muitas vezes eles é que nos ensinam, e muito! Antes de mais nada, uma criança nos ensina a viver no presente, a curtir um dia de cada vez -- ao invés de ficarmos remoendo o passado ou nos preocupando com o amanhã. A criança só conhece um tempo: o presente do indicativo.

No final das contas, a maternidade é uma experiência única...uma experiência às vezes pesada, mas muito válida. No meu caso, a maternidade foi iniciada com um processo doloroso pois tive uma depressão pós-parto que me fez questionar até aqueles valores (presumivelmente) indiscutíveis como o mito do amor materno...Basicamente, meu mundo (como o conhecia antes) mudou para sempre, e confesso que levei anos para aceitar esse fato.

É uma grande ilusão achar que a vida da gente não muda após termos filhos (só quem não tem filhos diz isso, ou quem tem filhos para serem criados pela babá ou com alguma sorte, pelos avós e outros parentes). Outra ilusão maior ainda achar que, mais cedo ou mais tarde, os filhos se adaptarão ao nosso esquema de vida -- na minha experiência e de muitas mães à minha volta, nosso esquema de vida é que é modificado com a chegada dos filhos.

Também aprendi que ninguém nasce mãe, a gente se torna mãe -- a cada dia, a cada mês, a cada ano...E mais, não acredito que todas as mulheres tenham nascido para serem mães e muito menos que a maior realização de uma mulher seja necessariamente seus filhos. Acredito sim é que a gente cria os filhos para o mundo...e que é um lêdo engano achar que eles irão preencher um vazio que nós mesmos não sabemos descrever.

Filho é pra gente criar, ensinar valores, educar para o mundo...filho não é pra suprir as necessidades da gente, nem pra ficar desfilando pelo parque com um buggy novinho em folha. Para isso, recomendo que adotem um cachorro! (sai muito mais em conta)

Saudades de mim mesma

Hoje estou nostálgica, com saudades de mim mesma. Saudade daquela jovem eternamente curiosa e com sede de novidades - novos idiomas, novas culturas, novos autores, novos conceitos. Aquela jovem que sonhava em viajar, viajar e...viajar! Que sonhava com terras distantes (sonho realizado, não posso me queixar) mas cujo maior sonho, acima de tudo, era a liberdade...bem verdade que ela ainda não havia descoberto que a liberdade traz consigo escolhas (e renúncias) inevitáveis. Como bem dizia um velho comercial de tv: a liberdade tem seu preço.

Aquela jovem deixou de existir -- ou talvez esteja quietinha num canto escuro, lá bem dentro de mim mesma. Por outro lado, ela teve a sorte de ter realizado seu maior sonho (morar no exterior), e de quebra ainda realizou outro que nem sequer sonhava, mas que logo descobriu ser o sonho acalentado por muitas mulheres: ter um filho.

O nascimento do meu filho foi um capítulo à parte. Um separador de águas, o momento mais definitivo da minha vida...um filho é para sempre! Parece óbvio, mas muitas pessoas só vão compreender isso realmente depois de anos, muitos anos...Perdas e ganhos pois no final das contas, ser mãe é padecer no paraíso mas também é uma das experiências mais enriquecedoras na vida de uma mulher!

sexta-feira, agosto 18, 2006

tem os que passam
e tudo se passa
com passos já passados

tem os que partem
da pedra ao vidro
deixam tudo partido

e tem, ainda bem,
os que deixam
a vaga impressão
de ter ficado

(Alice Ruiz)

quinta-feira, agosto 17, 2006

Desencanando...

Cansei de amigos que nunca têm tempo pra você, sempre estão ocupados com mil projetos, trabalho...e outros amigos. Amizade não precisa ser algo exclusivo (nem devia ser), amizade não pode ser exigido (porque aí não é amizade, é apenas cobrança) mas amigos que sempre estão ocupados para você...bem, talvez esses não sejam tão amigos quanto você imagina (ou deseja).

Como tudo na vida, amizade é prioridade, eu sempre arrumei tempo para as pessoas que realmente amo, meus amigos. E mais, sempre acreditei que amizade é como no casamento, para os momentos de alegria e de tristeza. Amigos que só estão com você na hora da risada e desaparecem na hora em que a tristeza bate...Amigas que arrumam um novo namorado ou novo emprego e de repente não tem mais tempo pra você...serão mesmo amigos ou a gente é que gosta de se iludir?

Resumindo, cansei de ilusões, de hoje em diante prometo a mim mesma que não vou mais perder meu tempo. De hoje em diante, prometo a mim mesma que apenas irei cultivar as amizades que merecem ser cultivadas. Quero amizades verdadeiras, as outras eu descarto -- hora de separar o joio do trigo.

No final das contas, sempre preferi qualidade à quantidade.

terça-feira, agosto 15, 2006

Amsterdam, parte II

Resolvi aproveitar o espaço deste blog para contar aos meus amigos um pouco sobre a minha Amsterdam -- a minha vida deste lado do oceano. Muitos ficam curiosos quando digo que moro na Holanda há 12 anos, outros admiram minha coragem e outros ainda pensam que sou louca (esses últimos provavelmente estão certos).

Percebi que a nova leva de brasileiros que tem emigrado para a Holanda (e outros países europeus) conta mais ou menos a mesma estória (de certa forma, só muda o nome dos personagens). Emigraram em nome do amor, para unir-se ao amor encontrado num dos milhares de sites de namoro na net. Sem exageros, 9 entre 10 das brasileiras que vi chegar à Holanda nos últimos 3 anos vieram dessa forma. Diga-se de passagem, um motivo nobre...só que a minha estória foi bem outra.

Minha estória foi diferente -- e assemelha-se a de muitos que se aventuraram pra cá naquela época, início dos anos 90. Sempre tive muita vontade de conhecer lugares e culturas diferentes, de navegar mares nunca antes navegados (no sentido literal e figurado da palavra pois afinal de contas, sou sagitariana dupla!). Vim visitar uma amiga brasileira e me apaixonei perdidamente pela cidade...Na época, eu trabalhava como tradutora em Dublin, tinha emprego com salário garantido no final do mês, aluguel pago pela empresa e até work permit.

Pois bem, larguei tudo isso pra me aventurar de mala e cuia em Amsterdam. Nos dois primeiros meses, fiquei hospedada no quarto dessa amiga (que mora aqui há 15 anos) enquanto procurava quartos para alugar nos jornais. Era verão de 1994, um verão abençoado com dias intermináveis de sol, e eu passava meus dias passeando pelas ruas da cidade, descobrindo cada rua, cada beco, cada pracinha, cada monumento. Cada dia uma nova descoberta...e eu andava até fazer calo. Quando cansava, sentava em um dos inúmeros brown cafés da cidade para tomar um cappucino, com um sorriso de satisfação no rosto e a cabeça repleta de novas impressões.

Cheguei a viver na ilegalidade durante quase dois anos, o que hoje em dia é quase impossível -- embora existam muitos ilegais, e não apenas brasileiros, nas grandes cidades holandesas: Amsterdam, Rotterdam e Haia. Naquela época, as leis de imigração ainda não eram tão rígidas como hoje. Depois de um ano de muitas aventuras e descobertas na cidade, estava prestes a voltar ao Brasil quando me apaixonei por um certo rapaz inglês...mas isso eu conto outra hora!

Amsterdam

Hoje resolvi escrever algo sobre a cidade pela qual me apaixonei à primeira vista há 12 anos atrás, e onde tenho a sorte de morar até os dias de hoje.

Amsterdam, onde vivi meus melhores e piores momentos. Aqui conheci uma cultura diferente, aprendi um idioma estranho, me casei, tive meu filho, sofri uma depressão que não desejo ao meu pior inimigo e me divorciei. Aqui descobri verdades sobre mim mesma que não teria descoberto se tivesse ficado em meu país natal. No estrangeiro, somos confrontados com nós mesmos de forma aguda e inevitável.

Viajar é descobrir novas culturas e acima de tudo, correr riscos...estar aberto para o desconhecido, sem preconceitos e bairrismos que apenas limitam e atrapalham a jornada de quem vive fora. Engraçado é que com os anos, fui percebendo que morar fora do Brasil não é coisa pra qualquer um. Muitos vem e voltam, poucos ficam.

Eu mesma passei por todas as conhecidas fases de adaptação do brasileiro que mora fora, sendo obrigada a conviver diariamente com duas culturas (no meu caso três pois meu ex-marido é inglês e a cultura inglesa é uma forte influência na minha vida, já era mesmo antes de conhecê-lo). E com o tempo, aprendi a tirar o melhor de cada uma dessas culturas e a (re)criar meus próprios valores a partir delas. Aprendi a assimilar os valores que valem a pena ser assimilados e a me desfazer de valores que não me permitam crescer. Na minha opinião, esta é a única forma de viver - e sobreviver - no estrangeiro.

Em 13 anos fora do Brasil, cheguei à conclusão de que no fundo, sou mesmo é cidadã do mundo - nem brasileira nem holandesa. E esta foi uma das descobertas mais libertadoras que fiz em toda a minha vida. The world is my shell.

sábado, agosto 12, 2006

Bem no fundo

No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.

(Paulo Leminski)

sexta-feira, agosto 11, 2006

A arte de cativar e cultivar amizades

Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. (O Pequeno Príncipe)

Conversando com uma amiga hoje, falávamos do afeto e da importância de sermos responsáveis...O mais interessante é que nunca havia pensado nisso dessa forma, até porque, sempre levei meus afetos muito a sério...em geral, quem conquista minha amizade, a conquista para sempre (a verdade é que também sou muito seletiva).

Mas uma coisa é você conquistar alguém...e outra é cultivar esse afeto. Nesse ponto, noto que muitas pessoas são negligentes: elas conquistam com facilidade mas não sabem cultivar o que conquistaram. Talvez por não saberem o valor do afeto conquistado -- ou porque sabem cativar, mas não sabem cultivar o que cativaram. Infelizmente, em um mundo que valoriza emoções fortes e relacionamentos descartáveis, esse tipo de atitude é cada vez mais comum.

Eu acredito que a amizade verdadeira se conquista ao longo dos anos, e mais: somos responsáveis por aquilo que cativamos. Se cativar é algo quase involuntário, cultivar amizades é um ato voluntário, que requer tempo, dedicação e esforços. Não é necessário muito para se cativar alguém, mas para cultivar esse sentimento é preciso tempo.

E no final das contas, bons amigos são como o vinho: quanto mais velhos, melhores.

quinta-feira, agosto 10, 2006

Almas gêmeas


Algumas pessoas juram ter encontrado sua alma gêmea. Quanto a mim, temo que ainda não tenha sido dessa vez. Aí vem a inevitável pergunta: o que é uma alma gêmea? e se ela realmente existe, como encontrá-la, como identificá-la na multidão? É então que me vem à mente palavras como sincronicidade e destino.

Outras vezes, penso que a alma gêmea seja uma projeção de nossos desejos e expectativas. Na vida e nos relacionamentos vividos, sempre vemos aquilo que queremos ver -- e se você acredita ter encontrado sua alma gêmea, já é meio caminho andado. O único risco é ela não atender às suas expectativas...mas expectativas são inevitáveis em qualquer relacionamento, o problema só se torna maior quando os dois têm expectativas diferentes em relação um ao outro.

Eu acho que quando duas pessoas se respeitam, mesmo que não se entendam totalmente, quando convivem com as diferenças sem tentar mudar o outro...já estamos chegando perto de uma resposta. Se alma gêmea existe, eu não sei...o que eu sei é que existem relacionamentos que nos fazem bem e relacionamentos que nos fazem mal. Relacionamentos que nos fazem crescer e nos empurram para frente e relacionamentos que nos diminuem e nos deixam paralisados e sem rumo.

***********************************************
Arte de amar (por Manuel Bandeira)

Se queres sentir a felicidade de amar,
esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus — ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

A insustentável leveza do ser

Tem dias em que acordo e gostaria de ser outra pessoa...ou melhor ainda, uma versão light de mim mesma! A verdade é que, observando ao meu redor, fico fascinada com a leveza de algumas pessoas...para essas pessoas, viver não parece requerer nenhum esforço, elas simplesmente vivem. Elas vem e vão, jogam conversa fora aqui e ali, sorriem e riem de suas desgraças. Para elas tudo é festa, a vida é uma festa (com alguns dias de ressaca porque ninguém é feliz o tempo todo). Elas não levam a vida a sério, e o mais irônico é que elas estão certas. A vida não é para ser levada a sério, a vida é para ser vivida.

Quanto a mim, continuo me esforçando para viver um dia de cada vez. Tem dias que ser eu mesma requer muitos esforços, noutros dias ser eu mesma simplesmente dói. Mente inquieta, ânsias e questionamentos, muitas dúvidas e algumas certezas, noites em claro. Como já dizia Caetano: Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é.

Só sei que com o passar dos anos, admiro cada vez mais a leveza de algumas pessoas...quando crescer eu quero ser light.

Just a quote from one of my favorite TV series



Sometimes reality has a way of sneaking up and biting us in the ass. And when the dam bursts, all you can do is swim. The world of pretend is a cage, not a cocoon. We can only lie to ourselves for so long. We are tired, we are scared, denying it doesn't change the truth. Sooner or later we have to put aside our denial and face the world. Head on, guns blazing. De Nile. It's not just a river in Egypt, it's a freakin' ocean. So how do you keep from drowning in it? (Meredith Grey, in Grey´s Anatomy)

Ser inteiro


Outro dia surgiu a discussão em uma das minhas comunidades do orkut: é possível ser feliz sozinho? Após ler vários posts, cheguei à conclusão de que quem está sozinho sonha com um parceiro para dividir sua solidão, sem saber que quem está acompanhado muitas vezes vive a solidão maior -- a solidão a dois. Pensando bem, a pergunta deveria ser: é possível ser feliz? Todos estão sempre em busca de algo, essa busca infindável é uma das principais características do ser humano.

Eu mesma não acredito que ninguém esteja aí pra preencher a solidão de ninguém e nem que isso seja motivo pra se buscar um relacionamento. Acredito que somos inteiros, sem precisar passar a vida buscando a outra metade...em vez de buscar fora, as pessoas deviam buscar dentro delas (o que evitaria muita desilusão e sofrimento...o que mata são as expectativas.)

De uma coisa eu tenho certeza: melhor do que o encontro de duas metades é o encontro de duas pessoas inteiras.

Júpiter em gêmeos

Noite em claro, espero o sono chegar. Cabeça a mil por hora, pensamentos dispersos, mente inquieta...insônia. Desde que me conheço por gente sempre fui assim, quando criança custava a pegar no sono (e tem gente que realmente acredita que insônia é coisa de adultos).

Deitada na cama, observo meus pensamentos. Pensamentos que muitas vezes tento controlar em vão, pensamentos autônomos que chegam e vão embora sem pedir licença. Pensamentos mil...o que poderia ter sido, o que um dia será (o futuro é uma incógnita). O passado e o futuro não existem, mas viver no presente é uma arte que poucos dominam.

Queria poder deitar a cabeça no travesseiro e saber que fiz o melhor que pude, ao menos por hoje. Saber que a vida é aqui e agora e que os pensamentos são apenas isso: pensamentos. Por outro lado, algo me diz que os pensamentos são sementes do futuro...porque no final das contas, criamos nosso futuro hoje.

Criamos nosso futuro com cada escolha que fazemos ou deixamos de fazer hoje. The future is now.

Nossos erros

Errar é humano, repetir os mesmos erros é burrice. Nada como um dia após o outro para aprendermos com os erros do passado.

O chato é que no livro da vida, cada página é escrita uma única vez, não podemos usar uma borracha para apagar os erros dos quais nos arrependemos mais adiante na jornada. Não há rascunhos, apenas escolhas e renúncias. A cada momento, escrevemos nossas vidas página após página, e com alguma sorte, seguimos em frente sem maiores acidentes de trajeto.

Somos todos personagens de nossas próprias histórias, de nossos próprios dramas. Para alguns, a vida não passa de um rascunho, linhas sem sentido, palavras ao vento. Outros fazem de sua vida uma verdadeira obra de arte.

Viver é uma arte. E, no final das contas, a arte da vida somos nós que fazemos. Somos autores do nosso próprio destino. Atores no palco da vida, corações palpitando, emoções à flor da pele.


não sou nada.
nunca serei nada.
não posso querer ser nada.
à parte isso, tenho em mim
todos os sonhos do mundo.

Álvaro de Campos

Exame de consciência




Se eu amo o meu semelhante? Sim. Mas onde encontrar o meu semelhante?

Mário Quintana (Caderno H)

Dos nossos males

A nós bastem nossos próprios ais,
Que a ninguém sua cruz é pequenina.
Por pior que seja a situação da China,
Os nossos calos doem muito mais...

(Mário Quintana)

quarta-feira, agosto 09, 2006

Divagações...

Engraçado como em tempos de comunicação virtual as pessoas parecem estar cada vez mais sozinhas, dividindo menos e se escondendo cada vez mais atrás de perfis, nomes de usuário, blogs, etc. Todo mundo falando muito e (quase) ninguém dizendo nada. Um mundo de oportunidades virtuais esperando serem concretizadas (ou não). Amizades virtuais que cultivamos com o sonho de um dia se tornarem reais, ao mesmo tempo em que amizades antes tão reais se tornam cada dia mais distantes. A vida tem dessas coisas.

Vivemos no mundo da tecnologia, num mundo de fastfood, blockbusters, emoções fortes e relações descartáveis. Correndo de um lado para o outro, sem chegar à lugar algum. Andando em círculos na ilusão de termos chegado. Na correria das grandes cidades, olhamos mas não vemos...e quando vemos, não sabemos apreciar o que estamos vendo.

Nos instalamos confortavelmente em apartamentos equipados com a mais moderna tecnologia, criamos nossas próprias ilhas. No meio de toda essa parafernália tecnológica, um homem sentado atrás de um monitor. Noite escura, escuridão da alma. Lá fora as luzes da cidade, outdoors, casais se beijando, casais brigando, solidão a dois. Tráfego intenso, emoções intensas. Vida que passa.

Não perca seu tempo!

A vida é curta demais para perdermos tempo com bobagens, com pessoas desinteressantes, pessoas desinteressadas e pessoas que, no final das contas, pouco têm a nos acrescentar. A vida é curta demais pra conversa fiada, discussões sem fim, discussões que não levam a nada. Curta demais para não ter opinião nenhuma...ou para ter opinião formada sobre tudo (quanto a mim, bem dizia Raul Seixas: prefiro ser esta metaformose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo).

Preciso urgentemente remover alguns dados obsoletos da minha vida, substituí-los por novos dados – dados que acrescentem algo à minha pessoa e à minha existência hoje...dados que reflitam a pessoa que sou hoje e não aquela que um dia fui. É hora de revirar as gavetas, fazer uma faxina emocional e refrescar a alma...Hora de abrir mão de sentimentos obsoletos e cultivar novos sentimentos. Largar de lado velhas mágoas e seguir em frente, sem medo.

Chega de dados obsoletos, emoções desbotadas, fantasmas do passado, palavras gastas, ressentimentos e mágoas remoídas...Chega de segurar a onda, de me fingir de morta, de fingir que não estou nem aí...Chega de falsas emoções e relações descartáveis.

Sejamos autênticos, a vida é aqui e agora.

Depois da tempestade vem a bonança



A vida é cheia de novidades, basta estar vivo. A vida é cheia de escolhas, basta não ter medo e fazer suas escolhas sem olhar pra trás. A vida é curta demais para se ter medo de mudar. E mudar é preciso, acredite!

Há quase um ano minha vida mudou e comecei a viver novamente...escolhi a mim mesma e a minha felicidade, porque afinal de contas, a felicidade também é uma escolha. Interessante como algumas pessoas são felizes sem o menor esforço...para mim, a felicidade é uma arte a ser aprendida.

Felicidade é algo a ser cultivado a cada dia -- um dia de cada vez.
Tecnologia do Blogger.

Criança diz cada uma...(3)

No natal passado, Liam tinha um pedido especial para o Papai Noel...todo dia ele comentava, até que eu, de saco cheio de ouvir a mesma ladainha, disse:

- Liam, vamos combinar o seguinte: eu ligo pro Papai Noel e digo pra ele o que você quer ganhar, OK?

E ele responde, sem piscar os olhos:
_ Mas mãe, como você sabe o telefone dele?!!

Criança diz cada uma...(2)



Esta tirada foi há um tempo atrás. Liam comentou que me achava uma mãe muito querida porque eu sempre comprava brinquedos pra ele...então ele me olhou sério e disse:

- Mãe, quando eu crescer vou trabalhar e ganhar muito dinheiro. Aí vou comprar muitos brinquedos pra você, tá?

Criança diz cada uma...(1)

Hoje à tarde estava eu em casa assistindo com o Liam uma coletânea de videoclipes do U2 (The Best Of). Ele adora as músicas (e tem até sangue irlandês por parte de pai), então lá pelas tantas, o guri me diz o seguinte:

- Mãe, essas músicas são tão bonitas, né? Quando você morrer posso ficar com o DVD pra mim? (credo, Liam...eu espero ainda viver por muitos e muitos anos, rsrsrsrs)

Maternidade, mito do amor materno e outras divagações...


O nascimento do meu filho é um processo que estou vivendo até hoje e que encerrou uma fase muito importante da minha vida. Perdi muito da liberdade de antes, mas felizmente também ganhei muita coisa em troca -- coisas que hoje nem teria palavras para descrever, se me pedissem.

Costuma-se pensar que os pais ensinam os filhos mas descobri que muitas vezes eles é que nos ensinam, e muito! Antes de mais nada, uma criança nos ensina a viver no presente, a curtir um dia de cada vez -- ao invés de ficarmos remoendo o passado ou nos preocupando com o amanhã. A criança só conhece um tempo: o presente do indicativo.

No final das contas, a maternidade é uma experiência única...uma experiência às vezes pesada, mas muito válida. No meu caso, a maternidade foi iniciada com um processo doloroso pois tive uma depressão pós-parto que me fez questionar até aqueles valores (presumivelmente) indiscutíveis como o mito do amor materno...Basicamente, meu mundo (como o conhecia antes) mudou para sempre, e confesso que levei anos para aceitar esse fato.

É uma grande ilusão achar que a vida da gente não muda após termos filhos (só quem não tem filhos diz isso, ou quem tem filhos para serem criados pela babá ou com alguma sorte, pelos avós e outros parentes). Outra ilusão maior ainda achar que, mais cedo ou mais tarde, os filhos se adaptarão ao nosso esquema de vida -- na minha experiência e de muitas mães à minha volta, nosso esquema de vida é que é modificado com a chegada dos filhos.

Também aprendi que ninguém nasce mãe, a gente se torna mãe -- a cada dia, a cada mês, a cada ano...E mais, não acredito que todas as mulheres tenham nascido para serem mães e muito menos que a maior realização de uma mulher seja necessariamente seus filhos. Acredito sim é que a gente cria os filhos para o mundo...e que é um lêdo engano achar que eles irão preencher um vazio que nós mesmos não sabemos descrever.

Filho é pra gente criar, ensinar valores, educar para o mundo...filho não é pra suprir as necessidades da gente, nem pra ficar desfilando pelo parque com um buggy novinho em folha. Para isso, recomendo que adotem um cachorro! (sai muito mais em conta)

Saudades de mim mesma

Hoje estou nostálgica, com saudades de mim mesma. Saudade daquela jovem eternamente curiosa e com sede de novidades - novos idiomas, novas culturas, novos autores, novos conceitos. Aquela jovem que sonhava em viajar, viajar e...viajar! Que sonhava com terras distantes (sonho realizado, não posso me queixar) mas cujo maior sonho, acima de tudo, era a liberdade...bem verdade que ela ainda não havia descoberto que a liberdade traz consigo escolhas (e renúncias) inevitáveis. Como bem dizia um velho comercial de tv: a liberdade tem seu preço.

Aquela jovem deixou de existir -- ou talvez esteja quietinha num canto escuro, lá bem dentro de mim mesma. Por outro lado, ela teve a sorte de ter realizado seu maior sonho (morar no exterior), e de quebra ainda realizou outro que nem sequer sonhava, mas que logo descobriu ser o sonho acalentado por muitas mulheres: ter um filho.

O nascimento do meu filho foi um capítulo à parte. Um separador de águas, o momento mais definitivo da minha vida...um filho é para sempre! Parece óbvio, mas muitas pessoas só vão compreender isso realmente depois de anos, muitos anos...Perdas e ganhos pois no final das contas, ser mãe é padecer no paraíso mas também é uma das experiências mais enriquecedoras na vida de uma mulher!

tem os que passam
e tudo se passa
com passos já passados

tem os que partem
da pedra ao vidro
deixam tudo partido

e tem, ainda bem,
os que deixam
a vaga impressão
de ter ficado

(Alice Ruiz)

Desencanando...

Cansei de amigos que nunca têm tempo pra você, sempre estão ocupados com mil projetos, trabalho...e outros amigos. Amizade não precisa ser algo exclusivo (nem devia ser), amizade não pode ser exigido (porque aí não é amizade, é apenas cobrança) mas amigos que sempre estão ocupados para você...bem, talvez esses não sejam tão amigos quanto você imagina (ou deseja).

Como tudo na vida, amizade é prioridade, eu sempre arrumei tempo para as pessoas que realmente amo, meus amigos. E mais, sempre acreditei que amizade é como no casamento, para os momentos de alegria e de tristeza. Amigos que só estão com você na hora da risada e desaparecem na hora em que a tristeza bate...Amigas que arrumam um novo namorado ou novo emprego e de repente não tem mais tempo pra você...serão mesmo amigos ou a gente é que gosta de se iludir?

Resumindo, cansei de ilusões, de hoje em diante prometo a mim mesma que não vou mais perder meu tempo. De hoje em diante, prometo a mim mesma que apenas irei cultivar as amizades que merecem ser cultivadas. Quero amizades verdadeiras, as outras eu descarto -- hora de separar o joio do trigo.

No final das contas, sempre preferi qualidade à quantidade.

Amsterdam, parte II

Resolvi aproveitar o espaço deste blog para contar aos meus amigos um pouco sobre a minha Amsterdam -- a minha vida deste lado do oceano. Muitos ficam curiosos quando digo que moro na Holanda há 12 anos, outros admiram minha coragem e outros ainda pensam que sou louca (esses últimos provavelmente estão certos).

Percebi que a nova leva de brasileiros que tem emigrado para a Holanda (e outros países europeus) conta mais ou menos a mesma estória (de certa forma, só muda o nome dos personagens). Emigraram em nome do amor, para unir-se ao amor encontrado num dos milhares de sites de namoro na net. Sem exageros, 9 entre 10 das brasileiras que vi chegar à Holanda nos últimos 3 anos vieram dessa forma. Diga-se de passagem, um motivo nobre...só que a minha estória foi bem outra.

Minha estória foi diferente -- e assemelha-se a de muitos que se aventuraram pra cá naquela época, início dos anos 90. Sempre tive muita vontade de conhecer lugares e culturas diferentes, de navegar mares nunca antes navegados (no sentido literal e figurado da palavra pois afinal de contas, sou sagitariana dupla!). Vim visitar uma amiga brasileira e me apaixonei perdidamente pela cidade...Na época, eu trabalhava como tradutora em Dublin, tinha emprego com salário garantido no final do mês, aluguel pago pela empresa e até work permit.

Pois bem, larguei tudo isso pra me aventurar de mala e cuia em Amsterdam. Nos dois primeiros meses, fiquei hospedada no quarto dessa amiga (que mora aqui há 15 anos) enquanto procurava quartos para alugar nos jornais. Era verão de 1994, um verão abençoado com dias intermináveis de sol, e eu passava meus dias passeando pelas ruas da cidade, descobrindo cada rua, cada beco, cada pracinha, cada monumento. Cada dia uma nova descoberta...e eu andava até fazer calo. Quando cansava, sentava em um dos inúmeros brown cafés da cidade para tomar um cappucino, com um sorriso de satisfação no rosto e a cabeça repleta de novas impressões.

Cheguei a viver na ilegalidade durante quase dois anos, o que hoje em dia é quase impossível -- embora existam muitos ilegais, e não apenas brasileiros, nas grandes cidades holandesas: Amsterdam, Rotterdam e Haia. Naquela época, as leis de imigração ainda não eram tão rígidas como hoje. Depois de um ano de muitas aventuras e descobertas na cidade, estava prestes a voltar ao Brasil quando me apaixonei por um certo rapaz inglês...mas isso eu conto outra hora!

Amsterdam

Hoje resolvi escrever algo sobre a cidade pela qual me apaixonei à primeira vista há 12 anos atrás, e onde tenho a sorte de morar até os dias de hoje.

Amsterdam, onde vivi meus melhores e piores momentos. Aqui conheci uma cultura diferente, aprendi um idioma estranho, me casei, tive meu filho, sofri uma depressão que não desejo ao meu pior inimigo e me divorciei. Aqui descobri verdades sobre mim mesma que não teria descoberto se tivesse ficado em meu país natal. No estrangeiro, somos confrontados com nós mesmos de forma aguda e inevitável.

Viajar é descobrir novas culturas e acima de tudo, correr riscos...estar aberto para o desconhecido, sem preconceitos e bairrismos que apenas limitam e atrapalham a jornada de quem vive fora. Engraçado é que com os anos, fui percebendo que morar fora do Brasil não é coisa pra qualquer um. Muitos vem e voltam, poucos ficam.

Eu mesma passei por todas as conhecidas fases de adaptação do brasileiro que mora fora, sendo obrigada a conviver diariamente com duas culturas (no meu caso três pois meu ex-marido é inglês e a cultura inglesa é uma forte influência na minha vida, já era mesmo antes de conhecê-lo). E com o tempo, aprendi a tirar o melhor de cada uma dessas culturas e a (re)criar meus próprios valores a partir delas. Aprendi a assimilar os valores que valem a pena ser assimilados e a me desfazer de valores que não me permitam crescer. Na minha opinião, esta é a única forma de viver - e sobreviver - no estrangeiro.

Em 13 anos fora do Brasil, cheguei à conclusão de que no fundo, sou mesmo é cidadã do mundo - nem brasileira nem holandesa. E esta foi uma das descobertas mais libertadoras que fiz em toda a minha vida. The world is my shell.

Bem no fundo

No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.

(Paulo Leminski)

A arte de cativar e cultivar amizades

Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. (O Pequeno Príncipe)

Conversando com uma amiga hoje, falávamos do afeto e da importância de sermos responsáveis...O mais interessante é que nunca havia pensado nisso dessa forma, até porque, sempre levei meus afetos muito a sério...em geral, quem conquista minha amizade, a conquista para sempre (a verdade é que também sou muito seletiva).

Mas uma coisa é você conquistar alguém...e outra é cultivar esse afeto. Nesse ponto, noto que muitas pessoas são negligentes: elas conquistam com facilidade mas não sabem cultivar o que conquistaram. Talvez por não saberem o valor do afeto conquistado -- ou porque sabem cativar, mas não sabem cultivar o que cativaram. Infelizmente, em um mundo que valoriza emoções fortes e relacionamentos descartáveis, esse tipo de atitude é cada vez mais comum.

Eu acredito que a amizade verdadeira se conquista ao longo dos anos, e mais: somos responsáveis por aquilo que cativamos. Se cativar é algo quase involuntário, cultivar amizades é um ato voluntário, que requer tempo, dedicação e esforços. Não é necessário muito para se cativar alguém, mas para cultivar esse sentimento é preciso tempo.

E no final das contas, bons amigos são como o vinho: quanto mais velhos, melhores.

Almas gêmeas


Algumas pessoas juram ter encontrado sua alma gêmea. Quanto a mim, temo que ainda não tenha sido dessa vez. Aí vem a inevitável pergunta: o que é uma alma gêmea? e se ela realmente existe, como encontrá-la, como identificá-la na multidão? É então que me vem à mente palavras como sincronicidade e destino.

Outras vezes, penso que a alma gêmea seja uma projeção de nossos desejos e expectativas. Na vida e nos relacionamentos vividos, sempre vemos aquilo que queremos ver -- e se você acredita ter encontrado sua alma gêmea, já é meio caminho andado. O único risco é ela não atender às suas expectativas...mas expectativas são inevitáveis em qualquer relacionamento, o problema só se torna maior quando os dois têm expectativas diferentes em relação um ao outro.

Eu acho que quando duas pessoas se respeitam, mesmo que não se entendam totalmente, quando convivem com as diferenças sem tentar mudar o outro...já estamos chegando perto de uma resposta. Se alma gêmea existe, eu não sei...o que eu sei é que existem relacionamentos que nos fazem bem e relacionamentos que nos fazem mal. Relacionamentos que nos fazem crescer e nos empurram para frente e relacionamentos que nos diminuem e nos deixam paralisados e sem rumo.

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Arte de amar (por Manuel Bandeira)

Se queres sentir a felicidade de amar,
esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus — ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

A insustentável leveza do ser

Tem dias em que acordo e gostaria de ser outra pessoa...ou melhor ainda, uma versão light de mim mesma! A verdade é que, observando ao meu redor, fico fascinada com a leveza de algumas pessoas...para essas pessoas, viver não parece requerer nenhum esforço, elas simplesmente vivem. Elas vem e vão, jogam conversa fora aqui e ali, sorriem e riem de suas desgraças. Para elas tudo é festa, a vida é uma festa (com alguns dias de ressaca porque ninguém é feliz o tempo todo). Elas não levam a vida a sério, e o mais irônico é que elas estão certas. A vida não é para ser levada a sério, a vida é para ser vivida.

Quanto a mim, continuo me esforçando para viver um dia de cada vez. Tem dias que ser eu mesma requer muitos esforços, noutros dias ser eu mesma simplesmente dói. Mente inquieta, ânsias e questionamentos, muitas dúvidas e algumas certezas, noites em claro. Como já dizia Caetano: Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é.

Só sei que com o passar dos anos, admiro cada vez mais a leveza de algumas pessoas...quando crescer eu quero ser light.

Just a quote from one of my favorite TV series



Sometimes reality has a way of sneaking up and biting us in the ass. And when the dam bursts, all you can do is swim. The world of pretend is a cage, not a cocoon. We can only lie to ourselves for so long. We are tired, we are scared, denying it doesn't change the truth. Sooner or later we have to put aside our denial and face the world. Head on, guns blazing. De Nile. It's not just a river in Egypt, it's a freakin' ocean. So how do you keep from drowning in it? (Meredith Grey, in Grey´s Anatomy)

Ser inteiro


Outro dia surgiu a discussão em uma das minhas comunidades do orkut: é possível ser feliz sozinho? Após ler vários posts, cheguei à conclusão de que quem está sozinho sonha com um parceiro para dividir sua solidão, sem saber que quem está acompanhado muitas vezes vive a solidão maior -- a solidão a dois. Pensando bem, a pergunta deveria ser: é possível ser feliz? Todos estão sempre em busca de algo, essa busca infindável é uma das principais características do ser humano.

Eu mesma não acredito que ninguém esteja aí pra preencher a solidão de ninguém e nem que isso seja motivo pra se buscar um relacionamento. Acredito que somos inteiros, sem precisar passar a vida buscando a outra metade...em vez de buscar fora, as pessoas deviam buscar dentro delas (o que evitaria muita desilusão e sofrimento...o que mata são as expectativas.)

De uma coisa eu tenho certeza: melhor do que o encontro de duas metades é o encontro de duas pessoas inteiras.

Júpiter em gêmeos

Noite em claro, espero o sono chegar. Cabeça a mil por hora, pensamentos dispersos, mente inquieta...insônia. Desde que me conheço por gente sempre fui assim, quando criança custava a pegar no sono (e tem gente que realmente acredita que insônia é coisa de adultos).

Deitada na cama, observo meus pensamentos. Pensamentos que muitas vezes tento controlar em vão, pensamentos autônomos que chegam e vão embora sem pedir licença. Pensamentos mil...o que poderia ter sido, o que um dia será (o futuro é uma incógnita). O passado e o futuro não existem, mas viver no presente é uma arte que poucos dominam.

Queria poder deitar a cabeça no travesseiro e saber que fiz o melhor que pude, ao menos por hoje. Saber que a vida é aqui e agora e que os pensamentos são apenas isso: pensamentos. Por outro lado, algo me diz que os pensamentos são sementes do futuro...porque no final das contas, criamos nosso futuro hoje.

Criamos nosso futuro com cada escolha que fazemos ou deixamos de fazer hoje. The future is now.

Nossos erros

Errar é humano, repetir os mesmos erros é burrice. Nada como um dia após o outro para aprendermos com os erros do passado.

O chato é que no livro da vida, cada página é escrita uma única vez, não podemos usar uma borracha para apagar os erros dos quais nos arrependemos mais adiante na jornada. Não há rascunhos, apenas escolhas e renúncias. A cada momento, escrevemos nossas vidas página após página, e com alguma sorte, seguimos em frente sem maiores acidentes de trajeto.

Somos todos personagens de nossas próprias histórias, de nossos próprios dramas. Para alguns, a vida não passa de um rascunho, linhas sem sentido, palavras ao vento. Outros fazem de sua vida uma verdadeira obra de arte.

Viver é uma arte. E, no final das contas, a arte da vida somos nós que fazemos. Somos autores do nosso próprio destino. Atores no palco da vida, corações palpitando, emoções à flor da pele.



não sou nada.
nunca serei nada.
não posso querer ser nada.
à parte isso, tenho em mim
todos os sonhos do mundo.

Álvaro de Campos

Exame de consciência




Se eu amo o meu semelhante? Sim. Mas onde encontrar o meu semelhante?

Mário Quintana (Caderno H)

Dos nossos males

A nós bastem nossos próprios ais,
Que a ninguém sua cruz é pequenina.
Por pior que seja a situação da China,
Os nossos calos doem muito mais...

(Mário Quintana)

Divagações...

Engraçado como em tempos de comunicação virtual as pessoas parecem estar cada vez mais sozinhas, dividindo menos e se escondendo cada vez mais atrás de perfis, nomes de usuário, blogs, etc. Todo mundo falando muito e (quase) ninguém dizendo nada. Um mundo de oportunidades virtuais esperando serem concretizadas (ou não). Amizades virtuais que cultivamos com o sonho de um dia se tornarem reais, ao mesmo tempo em que amizades antes tão reais se tornam cada dia mais distantes. A vida tem dessas coisas.

Vivemos no mundo da tecnologia, num mundo de fastfood, blockbusters, emoções fortes e relações descartáveis. Correndo de um lado para o outro, sem chegar à lugar algum. Andando em círculos na ilusão de termos chegado. Na correria das grandes cidades, olhamos mas não vemos...e quando vemos, não sabemos apreciar o que estamos vendo.

Nos instalamos confortavelmente em apartamentos equipados com a mais moderna tecnologia, criamos nossas próprias ilhas. No meio de toda essa parafernália tecnológica, um homem sentado atrás de um monitor. Noite escura, escuridão da alma. Lá fora as luzes da cidade, outdoors, casais se beijando, casais brigando, solidão a dois. Tráfego intenso, emoções intensas. Vida que passa.

Não perca seu tempo!

A vida é curta demais para perdermos tempo com bobagens, com pessoas desinteressantes, pessoas desinteressadas e pessoas que, no final das contas, pouco têm a nos acrescentar. A vida é curta demais pra conversa fiada, discussões sem fim, discussões que não levam a nada. Curta demais para não ter opinião nenhuma...ou para ter opinião formada sobre tudo (quanto a mim, bem dizia Raul Seixas: prefiro ser esta metaformose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo).

Preciso urgentemente remover alguns dados obsoletos da minha vida, substituí-los por novos dados – dados que acrescentem algo à minha pessoa e à minha existência hoje...dados que reflitam a pessoa que sou hoje e não aquela que um dia fui. É hora de revirar as gavetas, fazer uma faxina emocional e refrescar a alma...Hora de abrir mão de sentimentos obsoletos e cultivar novos sentimentos. Largar de lado velhas mágoas e seguir em frente, sem medo.

Chega de dados obsoletos, emoções desbotadas, fantasmas do passado, palavras gastas, ressentimentos e mágoas remoídas...Chega de segurar a onda, de me fingir de morta, de fingir que não estou nem aí...Chega de falsas emoções e relações descartáveis.

Sejamos autênticos, a vida é aqui e agora.

Depois da tempestade vem a bonança



A vida é cheia de novidades, basta estar vivo. A vida é cheia de escolhas, basta não ter medo e fazer suas escolhas sem olhar pra trás. A vida é curta demais para se ter medo de mudar. E mudar é preciso, acredite!

Há quase um ano minha vida mudou e comecei a viver novamente...escolhi a mim mesma e a minha felicidade, porque afinal de contas, a felicidade também é uma escolha. Interessante como algumas pessoas são felizes sem o menor esforço...para mim, a felicidade é uma arte a ser aprendida.

Felicidade é algo a ser cultivado a cada dia -- um dia de cada vez.