quarta-feira, novembro 12, 2008

Sobre os filhos da gente



Meu amigo A. deu um palpite que me fez pensar um bocado então cá estou eu de novo! É que eu sempre fico impressionada quando pessoas que não tem filhos dão palpite na criação dos filhos da gente. Até porque, eu mesma que tenho filho raramente dou palpite na criação dos filhos dos outros. Porque antes de mais nada eu acredito, ou quero acreditar, que na grande maioria dos casos os pais sempre fazem o melhor possível (e isso inclui os meus pais e os seus pais também). No mais, cada um sabe onde o calo lhe aperta.

A verdade é que esse tipo de palpite costuma ser dado com as melhores intenções do mundo (the road to hell is full of good intentions). Mas eu acho estranho as pessoas falarem com tanta naturalidade sobre algo que não tem a menor idéia do que seja. É mais ou menos como falar de um país que você nunca visitou porque metáforas à parte, a maternidade é uma terra estrangeira....Mas não, não fiquei chateada quando meu amigo disse que meu filho era mimado - até porque, já ouvi esse comentário antes...e tem até um percentual de verdade mas a estória é beeeeeeem longa então deixa pra lá. Por outro lado, a vida dele nunca foi fácil, com 5 anos já viveu a separação dos pais e já tinha duas casas, dois quartos montados e por ai vai. Aos 8 anos ele já vai e volta de ônibus da escola sozinho, tem celular e sabe usar! Sem falar que ele vê a mãe semana sim, semana não...o que muita gente pouco-informada critica mas eu já me acostumei e sei como é importante a relação dele com o pai. Guarda compartilhada no final é isso, você literalmente compartilha o filho. E como filha única, hoje valorizo mais do que nunca a criação que minha mãe me deu. Ela nunca me prendeu, mesmo quando decidi mudar de continente! E como toda mãe que se preze, sempre pensou na minha felicidade.

Só sei que com o passar dos anos tenho percebido que no final das contas existem 2 tipos de pessoas neste mundo (sem querer ser simplista e já sendo). As pessoas que tem filhos e aquelas que não tem. Juro por Deus que só depois que coloca um filho neste mundo é que você passa a entender determinadas coisas, passa a ver o mundo com outros olhos. A começar porque passa a ser responsável pela vida de alguém e isso não é brincadeira não! Mas não tem jeito, é assim mesmo. Não estou querendo dizer que quem tem filhos é melhor do que quem não tem, apenas que são mundos diferentes. E quem tem filhos vai concordar comigo, claro.

Um exemplo recente na minha vida é uma grande amiga que conheço há mais de 20 anos e com a qual já dividi muitos momentos bons e ruins nesta vida. Foi por causa dela que acabei morando aqui na Holanda! Na época estava trabalhando em Dublin e decidi visitá-la. Apaixonei-me por Amsterdã e poucos meses depois me mudei para cá de mala e cuia. Pois bem, ela sempre foi daquelas mulheres decididas a NUNCA ter filhos, para ela as crianças não passavam de monstrinhos incômodos, barulhentos e melequentos (eu também já fui assim, rsrsrsrs)...Mas hoje ela tem um bebê de seis meses e desde o nascimento dele o mundo dela mudou. 100 %. Ela teve o menino aos 41 anos, quando meu filho já tinha completado 8 anos de idade. E inevitavelmente, a (nova) maternidade dela acabou fortalecendo vínculos que já existiam desde os tempos de Brasil. Até brinquei com ela que durante anos o Liam simplesmente não existiu pra ela e que agora ele passou a ser gente! Nos primeiros anos do meu filho ela NUNCA perguntava por ele. E por quê perguntaria? Quem não tem filho tem outras preocupações na cabeça, oras bolas! Assim ela ligava para a mãe do Liam e não para ele. Mesmo no primeiro aniversário dele, para o qual foi convidada, não me lembro de ela ter sequer pego o menino no colo. E hoje carrega o bebê dela prum canto e pro outro como uma leoa orgulhosa da cria. Ironias da vida (e estou muito feliz por ela).

Moral da estória: nem tudo é o que parece ;-)

9 comentários:

Annix disse...

eu sou daquelas que não percebem as crianças do ambiente, filtro direto. Mas eu trouxe um presente pro Liam! hahaha

Beth Blue disse...

Anna, Liam agradece a lembrança! E quando é que você vem me visitar mesmo hein? ;-)

Anônimo disse...

Oi Beth, mandei o email abaixo mas voltou... então deixo aqui.

Vc descreve tb o que sinto como mãe e concordo com vc!

bjs

oi Beth,

obrigada pela visita : )

espero que vc esteja melhor!

eu faço parte de um grupo de brasileiras aqui nos EUA e agora há pouco uma delas me ligou pra perguntar se eu poderia ficar com um dos meninos (ela tem 2) nesse sábado.

Muito recentemente o filho de 3 anos foi diagnosticado dentro do espectro do autismo e a vida dela virou de cabeça pra baixo. Ela contou pro grupo e algumas responderam até porque temos uma outra moça que tem um menino de 4 com autismo.

Essa que me ligou hoje me disse que não esperava que ninguém ligasse pra ela porque não saberiam o que dizer. E aí ela começou a chorar e disse que não está conseguindo administrar tudo e se sente mal de pedir ajuda. Partiu meu coração, Beth. Eu havia oferecido de ficar com os meninos quando ela precisasse mas como meu filho não está aqui (está viajando com o pai) ela achou que não fosse uma boa idéia. Ela não mencionou o marido e eu tb não perguntei...

Desculpe-me pelo email tão longo mas como você transmite uma força tão grande e sabendo que seu menino tem autismo, gostaria de lhe perguntar como ajudamos os pais de autistas. Acho que cheguei a comentar com você que minha sobrinha de 6 anos tem um comportamento tão diferente das crianças da idade dela que estou sempre querendo ajudar minha irmã.

No que você puder ajudar com dicas seriam super bem-vindas!

beijos e muito obrigada!

Anônimo disse...

Beth, obrigada por responder tão prontamente! Vou passar seus dados pra menina.

bjs,

Marcia-Rotterdam disse...

Nossa eu o vi pequenino, agora já tem 8 anos, como o tempo passa! Pois é, cada um sabe onde o calo aperta, posso ter minhas idéias mas só quem é mãe sabe o que é e o que é mellhor. Abs,

Fer Guimaraes Rosa disse...

oi Beth, gostei muito de conhece-la! :-)

eu nunca liguei a minima pra criancas, mas aos 19 anos anos engravidei e minha vida mudou--pra sempre, neh? meu filho foi o primeiro bebe que carreguei na vida. ate hoje, nunca carrego bebes de ninguem, tenho um medaço...

mas por causa da minha idade, ouvi TANTO, mas TANTO palpite, voce pode imaginar. fiz tudo da minha cabeça. hoje meu filho eh um homão feliz. nao sei se tivesse um outro filho hoje, iria fazer o mesmo caminho que fiz com ele. mas eh um caminho que precisa ser feito com seguranca e autonomia.

um beijo!

Andrea Drewanz disse...

Beth, que delícia de texto!
Vc conseguiu sintetizar muito bem todos os sentimentos que a gente carrega depois de ser mãe!
E esta sua amiga, que só conseguiu enxergar seu filho depois que ela teve o dela, não é a única que existe. Acho que todas nós um dia fomos assim, né?
A vida é muito louca e adoro fazer parte dela!
Beijos para vc e pro Liam

Bebete Indarte disse...

Tem gente que nasceu pra ser TIO ou TIA.
Que nem na música do "Que fim levou Robin"...são na maioria das vezes, os gays, os parentes e amigos próximos daqueles que tem filho, e eles não tem filhos.

Antes de ter filhos eu era igual as pessoas que não tinha filho, achava umas crianças "engraçadinhas', por 15 minutos, ou também pisava nas crianças "sem querer", nem percebia no ambiente que nem falou a Anna.

Mas entrei nessa dimensão ai, faz um tempo...e agora até já estou entrando noutra, pois meu filho vai fazer 10 anos ano que vem.

Os dois teenagers...mama mia.
figlio mio.

bete disse...

de novo concordando com vc. e cada criança é uma criança. quem avê por pequenos momentos não sabe a realidade em que ela está inserida, não lida com todas as emoções do contexto, e por fim, e tão mais fácil falar que fazer...
Liam, acho um belo nome. bj

Tecnologia do Blogger.

Sobre os filhos da gente



Meu amigo A. deu um palpite que me fez pensar um bocado então cá estou eu de novo! É que eu sempre fico impressionada quando pessoas que não tem filhos dão palpite na criação dos filhos da gente. Até porque, eu mesma que tenho filho raramente dou palpite na criação dos filhos dos outros. Porque antes de mais nada eu acredito, ou quero acreditar, que na grande maioria dos casos os pais sempre fazem o melhor possível (e isso inclui os meus pais e os seus pais também). No mais, cada um sabe onde o calo lhe aperta.

A verdade é que esse tipo de palpite costuma ser dado com as melhores intenções do mundo (the road to hell is full of good intentions). Mas eu acho estranho as pessoas falarem com tanta naturalidade sobre algo que não tem a menor idéia do que seja. É mais ou menos como falar de um país que você nunca visitou porque metáforas à parte, a maternidade é uma terra estrangeira....Mas não, não fiquei chateada quando meu amigo disse que meu filho era mimado - até porque, já ouvi esse comentário antes...e tem até um percentual de verdade mas a estória é beeeeeeem longa então deixa pra lá. Por outro lado, a vida dele nunca foi fácil, com 5 anos já viveu a separação dos pais e já tinha duas casas, dois quartos montados e por ai vai. Aos 8 anos ele já vai e volta de ônibus da escola sozinho, tem celular e sabe usar! Sem falar que ele vê a mãe semana sim, semana não...o que muita gente pouco-informada critica mas eu já me acostumei e sei como é importante a relação dele com o pai. Guarda compartilhada no final é isso, você literalmente compartilha o filho. E como filha única, hoje valorizo mais do que nunca a criação que minha mãe me deu. Ela nunca me prendeu, mesmo quando decidi mudar de continente! E como toda mãe que se preze, sempre pensou na minha felicidade.

Só sei que com o passar dos anos tenho percebido que no final das contas existem 2 tipos de pessoas neste mundo (sem querer ser simplista e já sendo). As pessoas que tem filhos e aquelas que não tem. Juro por Deus que só depois que coloca um filho neste mundo é que você passa a entender determinadas coisas, passa a ver o mundo com outros olhos. A começar porque passa a ser responsável pela vida de alguém e isso não é brincadeira não! Mas não tem jeito, é assim mesmo. Não estou querendo dizer que quem tem filhos é melhor do que quem não tem, apenas que são mundos diferentes. E quem tem filhos vai concordar comigo, claro.

Um exemplo recente na minha vida é uma grande amiga que conheço há mais de 20 anos e com a qual já dividi muitos momentos bons e ruins nesta vida. Foi por causa dela que acabei morando aqui na Holanda! Na época estava trabalhando em Dublin e decidi visitá-la. Apaixonei-me por Amsterdã e poucos meses depois me mudei para cá de mala e cuia. Pois bem, ela sempre foi daquelas mulheres decididas a NUNCA ter filhos, para ela as crianças não passavam de monstrinhos incômodos, barulhentos e melequentos (eu também já fui assim, rsrsrsrs)...Mas hoje ela tem um bebê de seis meses e desde o nascimento dele o mundo dela mudou. 100 %. Ela teve o menino aos 41 anos, quando meu filho já tinha completado 8 anos de idade. E inevitavelmente, a (nova) maternidade dela acabou fortalecendo vínculos que já existiam desde os tempos de Brasil. Até brinquei com ela que durante anos o Liam simplesmente não existiu pra ela e que agora ele passou a ser gente! Nos primeiros anos do meu filho ela NUNCA perguntava por ele. E por quê perguntaria? Quem não tem filho tem outras preocupações na cabeça, oras bolas! Assim ela ligava para a mãe do Liam e não para ele. Mesmo no primeiro aniversário dele, para o qual foi convidada, não me lembro de ela ter sequer pego o menino no colo. E hoje carrega o bebê dela prum canto e pro outro como uma leoa orgulhosa da cria. Ironias da vida (e estou muito feliz por ela).

Moral da estória: nem tudo é o que parece ;-)

9 comentários:

Annix disse...

eu sou daquelas que não percebem as crianças do ambiente, filtro direto. Mas eu trouxe um presente pro Liam! hahaha

Beth Blue disse...

Anna, Liam agradece a lembrança! E quando é que você vem me visitar mesmo hein? ;-)

Anônimo disse...

Oi Beth, mandei o email abaixo mas voltou... então deixo aqui.

Vc descreve tb o que sinto como mãe e concordo com vc!

bjs

oi Beth,

obrigada pela visita : )

espero que vc esteja melhor!

eu faço parte de um grupo de brasileiras aqui nos EUA e agora há pouco uma delas me ligou pra perguntar se eu poderia ficar com um dos meninos (ela tem 2) nesse sábado.

Muito recentemente o filho de 3 anos foi diagnosticado dentro do espectro do autismo e a vida dela virou de cabeça pra baixo. Ela contou pro grupo e algumas responderam até porque temos uma outra moça que tem um menino de 4 com autismo.

Essa que me ligou hoje me disse que não esperava que ninguém ligasse pra ela porque não saberiam o que dizer. E aí ela começou a chorar e disse que não está conseguindo administrar tudo e se sente mal de pedir ajuda. Partiu meu coração, Beth. Eu havia oferecido de ficar com os meninos quando ela precisasse mas como meu filho não está aqui (está viajando com o pai) ela achou que não fosse uma boa idéia. Ela não mencionou o marido e eu tb não perguntei...

Desculpe-me pelo email tão longo mas como você transmite uma força tão grande e sabendo que seu menino tem autismo, gostaria de lhe perguntar como ajudamos os pais de autistas. Acho que cheguei a comentar com você que minha sobrinha de 6 anos tem um comportamento tão diferente das crianças da idade dela que estou sempre querendo ajudar minha irmã.

No que você puder ajudar com dicas seriam super bem-vindas!

beijos e muito obrigada!

Anônimo disse...

Beth, obrigada por responder tão prontamente! Vou passar seus dados pra menina.

bjs,

Marcia-Rotterdam disse...

Nossa eu o vi pequenino, agora já tem 8 anos, como o tempo passa! Pois é, cada um sabe onde o calo aperta, posso ter minhas idéias mas só quem é mãe sabe o que é e o que é mellhor. Abs,

Fer Guimaraes Rosa disse...

oi Beth, gostei muito de conhece-la! :-)

eu nunca liguei a minima pra criancas, mas aos 19 anos anos engravidei e minha vida mudou--pra sempre, neh? meu filho foi o primeiro bebe que carreguei na vida. ate hoje, nunca carrego bebes de ninguem, tenho um medaço...

mas por causa da minha idade, ouvi TANTO, mas TANTO palpite, voce pode imaginar. fiz tudo da minha cabeça. hoje meu filho eh um homão feliz. nao sei se tivesse um outro filho hoje, iria fazer o mesmo caminho que fiz com ele. mas eh um caminho que precisa ser feito com seguranca e autonomia.

um beijo!

Andrea Drewanz disse...

Beth, que delícia de texto!
Vc conseguiu sintetizar muito bem todos os sentimentos que a gente carrega depois de ser mãe!
E esta sua amiga, que só conseguiu enxergar seu filho depois que ela teve o dela, não é a única que existe. Acho que todas nós um dia fomos assim, né?
A vida é muito louca e adoro fazer parte dela!
Beijos para vc e pro Liam

Bebete Indarte disse...

Tem gente que nasceu pra ser TIO ou TIA.
Que nem na música do "Que fim levou Robin"...são na maioria das vezes, os gays, os parentes e amigos próximos daqueles que tem filho, e eles não tem filhos.

Antes de ter filhos eu era igual as pessoas que não tinha filho, achava umas crianças "engraçadinhas', por 15 minutos, ou também pisava nas crianças "sem querer", nem percebia no ambiente que nem falou a Anna.

Mas entrei nessa dimensão ai, faz um tempo...e agora até já estou entrando noutra, pois meu filho vai fazer 10 anos ano que vem.

Os dois teenagers...mama mia.
figlio mio.

bete disse...

de novo concordando com vc. e cada criança é uma criança. quem avê por pequenos momentos não sabe a realidade em que ela está inserida, não lida com todas as emoções do contexto, e por fim, e tão mais fácil falar que fazer...
Liam, acho um belo nome. bj