quinta-feira, novembro 03, 2011

Lionel Shriver 3x



Se tem uma autora que me conquistou nos últimos tempos é a americana Lionel Shriver. Acabei de ler o terceiro livro dela e continuo apreciando cada vez mais seu estilo. Ela é a autora do bestseller "We Need to Talk About Kevin", que comentei aqui. E também do livro "The Post-Birthday World", que comentei aqui. Diga-se de passagem, Kevin tornou-se um bestseller em vários países e virou até filme, a estrear em 2012 nos cinemas. Sorte é que dessa vez eles parecem ter acertado na transição do livro para a tela. A própria Lionel Shriver afirmou - aliviada - estar satisfeita com os resultados (leia entrevista no The Guardian aqui). A começar com a escolha da ótima Tilda Swinton no papel da protagonista e mãe do menino.

Pois acabei de devorar So Much for That, o mais recente livro da autora . E claro, vim correndo aqui recomendá-lo pra vocês! Quem nunca leu, leia. Uma leitura instigante e que faz pensar, escrita numa linguagem inteligente e ao mesmo tempo acessível.

O tema principal, cancêr nãe seria o que exatamente as pessoas poderiam ser de um tema agradável. E no entanto, a autora consegue, mais uma vez, escrever um livro extremamente inteligente e perspicaz aproveitando para especular sobre o sistema de saúde americano (o que em muitas partes, me fez lembrar o excelente Sicko, de Michael Moore). Quem anda por aí reclamando do SUS, precisa ler este livro!

É que nos EUA, os planos de saúde não cobrem tratamentos caros como aqueles para o câncer...e quem não tem dinheiro, não tem escolha. No caso deste livro, o marido (Shep) é obrigado a se desfazer das poupanças que fez durante toda a sua vida para pagar o tratamento de sua esposa (Glynis). A doença de Glynis anuncia o fim de um sonho acalentado por Shep a vida inteira. A famosa "After Life", uma vida de sonho em uma ilha na África, uma volta à natureza e à simplicidade que não mais existe nas grandes cidades (o casal mora em New York). Depois de muitas viagens, Shep finalmente encontra o lugar ideal: Pemba, uma ilha no arquipélago de Zanzibar, no Oceano Índico. E sim, a tal ilha existe mesmo porque fiquei curiosa durante a leitura e fui pesquisar! Maravilhosa, diga-se de passagem (também quero ir pra lá).

Mas voltando ao livro, o mais interessante é o que a autora faz com seus personagens...Em nenhum momento o leitor consegue simpatizar com a doente...ela é simplesmente uma mulher chata e insuportável que só piora de humor com a doença (também não é pra menos). Então, em vez de uma vítima prostrada que com o passar do tempo vai fazendo as pazes com seu passado e sua vida em preparação para uma morte inevitável (o tal "processo" que todos nós um dia passaremos), Glynis fica cada dia mais revoltada. E perfeccionista como sempre foi, decide entrar nesta batalha para vencer...Após várias sessões de quimioterapia, ela continua firme (embora o corpo esteja cada vez mais fraco) e se recusa a saber dos resultados de exames. Ao mesmo tempo, ela se recusa a ver o "lado bom da doença" (se é que ele existe). Assusta as visitas já constrangidas quando perguntam se ela encontrou a razão da vida ou algo assim.

Enfim, Glynis é perspicaz, sarcástica e totalmente inconformada com o seu destino. Ela não tem a menor intenção de reatar vínculos nem perdoar inimizades. E chega até mesmo a vibrar quando algo ruim acontece com os outros. Um terremoto ou outro desastre natural na tv a deixa feliz, porque assim ela sabe que não está sofrendo sozinha!!! Lionel Shriver desmorona o mito do paciente "bonzinho" que aos poucos faz as pazes com a doença e com a vida, em preparação para a morte. E isso gera diálogos engraçados e cheios de sarcasmo!

Para enfatizar ainda mais a "maldade" de Glynis, Shep é o marido perfeito, pronto para fazer tudo que for necessário para salvar a sua esposa de 26 anos. Mesmo que isso significa abandonar um sonho da vida inteira...Não conto mais pra não estragar, mas aviso que o final é totalmente...inesperado!


We  Need to Talk About Kevin, o filme

4 comentários:

Lia disse...

Oi, Beth
Peguei "We need to talk about Kevin" na biblioteca e vou começar logo a lê-lo. Boa dica, não conhecia esse novo livro dela. Bjs

Mateus Medina disse...

Ok, ok... acho que preciso parar de ler resenhas de livros. Definitivamente.

Vocês têm o mau costume de escrever tão bem sobre os livros, que eu vou ficando com vontade de ler tudo. Eu não tenho tempo pra isso =/ rsrsrsrsrs

bjos

Pri S. disse...

Eu estou aqui com o "Dupla Falta" (ou Double Fault aí pra vc) da Shriver. Tá na minha pilha, um dos próximos a ser lido.

Tb adoro o estilo de escrita dela!

Acho que esse que vc leu ainda não foi lançado aqui no Brasil.

Impressionante como ela não é óbvia, né? Ela vai na contramão dos clichês! Amo!

Boa indicação. Assim que chegar em terras tupiniquins, corro atrás.

Bjos!

Eve disse...

Agora fiquei com vontade de ler esse livro. Os que eu tenho lido aqui sao legais tb, mas nao chegam a ser diferente do café com leite de sempre. Acho que essa aí é bem melhor. rs
Bjs!

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Lionel Shriver 3x



Se tem uma autora que me conquistou nos últimos tempos é a americana Lionel Shriver. Acabei de ler o terceiro livro dela e continuo apreciando cada vez mais seu estilo. Ela é a autora do bestseller "We Need to Talk About Kevin", que comentei aqui. E também do livro "The Post-Birthday World", que comentei aqui. Diga-se de passagem, Kevin tornou-se um bestseller em vários países e virou até filme, a estrear em 2012 nos cinemas. Sorte é que dessa vez eles parecem ter acertado na transição do livro para a tela. A própria Lionel Shriver afirmou - aliviada - estar satisfeita com os resultados (leia entrevista no The Guardian aqui). A começar com a escolha da ótima Tilda Swinton no papel da protagonista e mãe do menino.

Pois acabei de devorar So Much for That, o mais recente livro da autora . E claro, vim correndo aqui recomendá-lo pra vocês! Quem nunca leu, leia. Uma leitura instigante e que faz pensar, escrita numa linguagem inteligente e ao mesmo tempo acessível.

O tema principal, cancêr nãe seria o que exatamente as pessoas poderiam ser de um tema agradável. E no entanto, a autora consegue, mais uma vez, escrever um livro extremamente inteligente e perspicaz aproveitando para especular sobre o sistema de saúde americano (o que em muitas partes, me fez lembrar o excelente Sicko, de Michael Moore). Quem anda por aí reclamando do SUS, precisa ler este livro!

É que nos EUA, os planos de saúde não cobrem tratamentos caros como aqueles para o câncer...e quem não tem dinheiro, não tem escolha. No caso deste livro, o marido (Shep) é obrigado a se desfazer das poupanças que fez durante toda a sua vida para pagar o tratamento de sua esposa (Glynis). A doença de Glynis anuncia o fim de um sonho acalentado por Shep a vida inteira. A famosa "After Life", uma vida de sonho em uma ilha na África, uma volta à natureza e à simplicidade que não mais existe nas grandes cidades (o casal mora em New York). Depois de muitas viagens, Shep finalmente encontra o lugar ideal: Pemba, uma ilha no arquipélago de Zanzibar, no Oceano Índico. E sim, a tal ilha existe mesmo porque fiquei curiosa durante a leitura e fui pesquisar! Maravilhosa, diga-se de passagem (também quero ir pra lá).

Mas voltando ao livro, o mais interessante é o que a autora faz com seus personagens...Em nenhum momento o leitor consegue simpatizar com a doente...ela é simplesmente uma mulher chata e insuportável que só piora de humor com a doença (também não é pra menos). Então, em vez de uma vítima prostrada que com o passar do tempo vai fazendo as pazes com seu passado e sua vida em preparação para uma morte inevitável (o tal "processo" que todos nós um dia passaremos), Glynis fica cada dia mais revoltada. E perfeccionista como sempre foi, decide entrar nesta batalha para vencer...Após várias sessões de quimioterapia, ela continua firme (embora o corpo esteja cada vez mais fraco) e se recusa a saber dos resultados de exames. Ao mesmo tempo, ela se recusa a ver o "lado bom da doença" (se é que ele existe). Assusta as visitas já constrangidas quando perguntam se ela encontrou a razão da vida ou algo assim.

Enfim, Glynis é perspicaz, sarcástica e totalmente inconformada com o seu destino. Ela não tem a menor intenção de reatar vínculos nem perdoar inimizades. E chega até mesmo a vibrar quando algo ruim acontece com os outros. Um terremoto ou outro desastre natural na tv a deixa feliz, porque assim ela sabe que não está sofrendo sozinha!!! Lionel Shriver desmorona o mito do paciente "bonzinho" que aos poucos faz as pazes com a doença e com a vida, em preparação para a morte. E isso gera diálogos engraçados e cheios de sarcasmo!

Para enfatizar ainda mais a "maldade" de Glynis, Shep é o marido perfeito, pronto para fazer tudo que for necessário para salvar a sua esposa de 26 anos. Mesmo que isso significa abandonar um sonho da vida inteira...Não conto mais pra não estragar, mas aviso que o final é totalmente...inesperado!


We  Need to Talk About Kevin, o filme

4 comentários:

Lia disse...

Oi, Beth
Peguei "We need to talk about Kevin" na biblioteca e vou começar logo a lê-lo. Boa dica, não conhecia esse novo livro dela. Bjs

Mateus Medina disse...

Ok, ok... acho que preciso parar de ler resenhas de livros. Definitivamente.

Vocês têm o mau costume de escrever tão bem sobre os livros, que eu vou ficando com vontade de ler tudo. Eu não tenho tempo pra isso =/ rsrsrsrsrs

bjos

Pri S. disse...

Eu estou aqui com o "Dupla Falta" (ou Double Fault aí pra vc) da Shriver. Tá na minha pilha, um dos próximos a ser lido.

Tb adoro o estilo de escrita dela!

Acho que esse que vc leu ainda não foi lançado aqui no Brasil.

Impressionante como ela não é óbvia, né? Ela vai na contramão dos clichês! Amo!

Boa indicação. Assim que chegar em terras tupiniquins, corro atrás.

Bjos!

Eve disse...

Agora fiquei com vontade de ler esse livro. Os que eu tenho lido aqui sao legais tb, mas nao chegam a ser diferente do café com leite de sempre. Acho que essa aí é bem melhor. rs
Bjs!