quinta-feira, março 20, 2014

Puxa vida


Não quero ser aquela velha ranzinza (alguns me acham "chata" mas não se pode agradar a gregos e troianos, né?). Mas puxa vida, eu até tento mas ainda me decepciono com o ser humano...Exemplo recente foi meu post anterior, que foi lido por muitos (muitos mesmo, porque eu posso ver as estatísticas do Google e o número de visitas foi acima da média) e comentado por poucos. Até mesmo pessoas que eu pensei que iriam comentar, amizades da blogosfera...Aí eu pensei: é assunto delicado e complexo, nem todo mundo sabe o que dizer. Mas sabe, tem horas que a gente gostaria de uma certa interação, de umas palavras de apoio.

A verdade é que pensei muito antes de me expor, mas acabei publicando o tal post do diagnóstico porque no final das contas, eu continuo sendo eu mesma e às vezes tenho mais necessidade de dividir algo do que de me poupar. E sinceramente, espero que o post tenha sido útil para algumas daquelas pessoas que leram, talvez pessoas que como eu ficaram anos mudando de terapia e medicamento até receber o diagnóstico correto.

Enfim, sei lá. Vai ver ando mesmo carente...sinto falta de alguém pra compartilhar esta batalha, mas cheguei à conclusão de que esta batalha eu terei de lutar sozinha - como aliás já venho fazendo há anos.

O que tem me salvo é o F., companheiro que nunca me abandona.  E uma amiga de longíssima data que atura meus altos e baixos há quase 30 anos. E meu filho, que é meu maior tesouro...embora ele também esteja passando por uma fase difícil (adolescência).

O que tem me salvo são meus livros, minhas leituras que me transportam para outros mundos, outras vidas, outras realidades. Os filmes, que tem sido parte da minha vida desde a adolescência. E minha criatividade, meu canal de expressão.

Ou seja, a vida é assim mesmo e não adianta reclamar, né? Cada um com suas batalhas e cada um vivendo como dá. Eu já aprendi muito mas ainda tenho muto a aprender. Tenho de aprender a esperar menos das pessoas. Aprender a dar (mais) valor aqueles que me amam em vez de sofrer com perdas do passado. Porque os que se foram só se foram porque era para ser assim. As pessoas que ficam na vida da gente, ficam por uma razão.

Bom, acho que era só isso...

quinta-feira, março 13, 2014

O novo diagnóstico

Pra quem percebeu o meu sumiço (de vez eu quando eu sumo pra reorganizar as idéias), voltei - então senta que lá vem estória! Pra falar a verdade, eu pensei um bocado se devia ou não publicar isso aqui mas como eu sou eu, já viu! Eu não tenho papas na língua.

Em novembro, como todo fim de ano, tive mais uma crise pesadíssima (comentei aqui). Dessa vez tive até de mudar de tratamento (terapia e medicamento) e desde então, tive duas longas conversas com o novo psiquiatra...que finalmente sacou o que os anteriores não sacaram. Tá sentado? O novo psiquiatra reveu meus diagnósticos anteriores de depressão e borderline e concluiu que sou um caso clássico de Bipolar II (ou seja, nada de borderline tá gente?) . Pra ser sincera, nem cheguei a ficar surpresa com o novo diagnóstico, porque sempre desconfiei disso (e subitamente a ficha caiu e muita coisa passou a fazer sentido). O problema é que eu mesma não tinha informação suficiente sobre a tal doença...então complicou, né?



Explicando para os leigos (e pra quem estiver interessado no assunto), existem dois tipos de bipolar: I e II. Bipolar I é o quadro clássico do maníaco-depressivo e se caracteriza por ciclos alternados de depressão e mania (e em casos mais graves, psicose). Geralmente a primeira crise ocorre lá pelos 18 anos e é tão grave que o paciente precisa ser hospitalizado. Eu conheço uma pessoa assim, e ela toma lítio há mais de 20 anos (e virou minha coach nesta nova fase de medicamento pois eu comecei a tomar lítio semana passada). Dito isso, Bipolar I é o tipo mais fácil de ser diagnosticado.

Bipolar II (meu "novo" diagnóstico), a pessoa sofre períodos de depressão grave com períodos de hipermania (irritabilidade, agitação mental e um certo grau de "entusiasmo" que não são graves o bastante para serem classificados como mania). O problema é que o paciente com Bipolar II geralmente só busca ajuda quando está deprimido - porque quando a pessoa está na fase animada está tudo bem e todo mundo está feliz, né? Infelizmente, no Bipolar II as crises de depressão são mais frequentes do que a hipomania. Outro aspecto que dificulta o diagnóstico é que alguns sintomas típicos - como falar ininterruptamente e aceleradamente ("metralhadora"), agitação mental, insônia, irritabilidade e impulsividade - muitas vezes são confundidos com ADHD (Attention Deficit Hyperactive Disorder)...o que diga-se de passagem, aconteceu inúmeras vezes comigo! Principalmente os holandeses, que valorizam o silencio e o temperamento introvertido e reservado. Se no Brasil o meu temperamento " extrovertido"  e " falante"  nem incomoda tanta gente assim (embora também incomode), aqui na Holanda eu incomodo muito. Eu simplesmente não me encaixo na cultura holandesa...
 
No meu caso, foi uma longa jornada até chegar a este diagnóstico. Os últimos dez anos tem sido uma jornada dolorosa com todo tipo de problemas, desde no campo profissional até nos relacionamentos e amizades (quem costuma ler este blog sabe disso). Acho que mais perdi do que fiz amigos aqui na Holanda nos últimos 20 anos (a grande vantagem é que só ficaram mesmo os amigos de verdade). Várias terapias, psicólogos, 3 ou 4 psiquiatras, 3 antidepressivos diferentes (Effexor, Prozac e Cymbalta sendo do que dos tres o que salvou a minha vida foi sem duvida o Prozac) .Fora isso, fiz dois tratamentos prolongados numa clínica daqui (no primeiro recebi o diagnóstico de depressão e no segundo o diagnóstico de borderline). E ano passado, depois que o terceiro antidepressivo deixou de ter efeito (uma situação horrível que só desejo ao meu pior inimigo), minha médica me encaminhou para outra clínica renomada aqui em Amsterdam e desde então estou sendo tratada por um novo psiquiatra. Com um novo medicamento, o velho e conhecido lítio, usado com sucesso no tratamento bipolar há mais de 50 anos.

Portanto, quando eu digo que a minha vida é cheia de altos e baixos, podem acreditar que não estou exagerando. E sabem de uma coisa? Quase ou tão ruim quanto esta doença é a ignorancia alheia. E foi por isso que decidi escrever este post. Quem sabe um dia as pessoas acordam.





Tecnologia do Blogger.

Puxa vida


Não quero ser aquela velha ranzinza (alguns me acham "chata" mas não se pode agradar a gregos e troianos, né?). Mas puxa vida, eu até tento mas ainda me decepciono com o ser humano...Exemplo recente foi meu post anterior, que foi lido por muitos (muitos mesmo, porque eu posso ver as estatísticas do Google e o número de visitas foi acima da média) e comentado por poucos. Até mesmo pessoas que eu pensei que iriam comentar, amizades da blogosfera...Aí eu pensei: é assunto delicado e complexo, nem todo mundo sabe o que dizer. Mas sabe, tem horas que a gente gostaria de uma certa interação, de umas palavras de apoio.

A verdade é que pensei muito antes de me expor, mas acabei publicando o tal post do diagnóstico porque no final das contas, eu continuo sendo eu mesma e às vezes tenho mais necessidade de dividir algo do que de me poupar. E sinceramente, espero que o post tenha sido útil para algumas daquelas pessoas que leram, talvez pessoas que como eu ficaram anos mudando de terapia e medicamento até receber o diagnóstico correto.

Enfim, sei lá. Vai ver ando mesmo carente...sinto falta de alguém pra compartilhar esta batalha, mas cheguei à conclusão de que esta batalha eu terei de lutar sozinha - como aliás já venho fazendo há anos.

O que tem me salvo é o F., companheiro que nunca me abandona.  E uma amiga de longíssima data que atura meus altos e baixos há quase 30 anos. E meu filho, que é meu maior tesouro...embora ele também esteja passando por uma fase difícil (adolescência).

O que tem me salvo são meus livros, minhas leituras que me transportam para outros mundos, outras vidas, outras realidades. Os filmes, que tem sido parte da minha vida desde a adolescência. E minha criatividade, meu canal de expressão.

Ou seja, a vida é assim mesmo e não adianta reclamar, né? Cada um com suas batalhas e cada um vivendo como dá. Eu já aprendi muito mas ainda tenho muto a aprender. Tenho de aprender a esperar menos das pessoas. Aprender a dar (mais) valor aqueles que me amam em vez de sofrer com perdas do passado. Porque os que se foram só se foram porque era para ser assim. As pessoas que ficam na vida da gente, ficam por uma razão.

Bom, acho que era só isso...

O novo diagnóstico

Pra quem percebeu o meu sumiço (de vez eu quando eu sumo pra reorganizar as idéias), voltei - então senta que lá vem estória! Pra falar a verdade, eu pensei um bocado se devia ou não publicar isso aqui mas como eu sou eu, já viu! Eu não tenho papas na língua.

Em novembro, como todo fim de ano, tive mais uma crise pesadíssima (comentei aqui). Dessa vez tive até de mudar de tratamento (terapia e medicamento) e desde então, tive duas longas conversas com o novo psiquiatra...que finalmente sacou o que os anteriores não sacaram. Tá sentado? O novo psiquiatra reveu meus diagnósticos anteriores de depressão e borderline e concluiu que sou um caso clássico de Bipolar II (ou seja, nada de borderline tá gente?) . Pra ser sincera, nem cheguei a ficar surpresa com o novo diagnóstico, porque sempre desconfiei disso (e subitamente a ficha caiu e muita coisa passou a fazer sentido). O problema é que eu mesma não tinha informação suficiente sobre a tal doença...então complicou, né?



Explicando para os leigos (e pra quem estiver interessado no assunto), existem dois tipos de bipolar: I e II. Bipolar I é o quadro clássico do maníaco-depressivo e se caracteriza por ciclos alternados de depressão e mania (e em casos mais graves, psicose). Geralmente a primeira crise ocorre lá pelos 18 anos e é tão grave que o paciente precisa ser hospitalizado. Eu conheço uma pessoa assim, e ela toma lítio há mais de 20 anos (e virou minha coach nesta nova fase de medicamento pois eu comecei a tomar lítio semana passada). Dito isso, Bipolar I é o tipo mais fácil de ser diagnosticado.

Bipolar II (meu "novo" diagnóstico), a pessoa sofre períodos de depressão grave com períodos de hipermania (irritabilidade, agitação mental e um certo grau de "entusiasmo" que não são graves o bastante para serem classificados como mania). O problema é que o paciente com Bipolar II geralmente só busca ajuda quando está deprimido - porque quando a pessoa está na fase animada está tudo bem e todo mundo está feliz, né? Infelizmente, no Bipolar II as crises de depressão são mais frequentes do que a hipomania. Outro aspecto que dificulta o diagnóstico é que alguns sintomas típicos - como falar ininterruptamente e aceleradamente ("metralhadora"), agitação mental, insônia, irritabilidade e impulsividade - muitas vezes são confundidos com ADHD (Attention Deficit Hyperactive Disorder)...o que diga-se de passagem, aconteceu inúmeras vezes comigo! Principalmente os holandeses, que valorizam o silencio e o temperamento introvertido e reservado. Se no Brasil o meu temperamento " extrovertido"  e " falante"  nem incomoda tanta gente assim (embora também incomode), aqui na Holanda eu incomodo muito. Eu simplesmente não me encaixo na cultura holandesa...
 
No meu caso, foi uma longa jornada até chegar a este diagnóstico. Os últimos dez anos tem sido uma jornada dolorosa com todo tipo de problemas, desde no campo profissional até nos relacionamentos e amizades (quem costuma ler este blog sabe disso). Acho que mais perdi do que fiz amigos aqui na Holanda nos últimos 20 anos (a grande vantagem é que só ficaram mesmo os amigos de verdade). Várias terapias, psicólogos, 3 ou 4 psiquiatras, 3 antidepressivos diferentes (Effexor, Prozac e Cymbalta sendo do que dos tres o que salvou a minha vida foi sem duvida o Prozac) .Fora isso, fiz dois tratamentos prolongados numa clínica daqui (no primeiro recebi o diagnóstico de depressão e no segundo o diagnóstico de borderline). E ano passado, depois que o terceiro antidepressivo deixou de ter efeito (uma situação horrível que só desejo ao meu pior inimigo), minha médica me encaminhou para outra clínica renomada aqui em Amsterdam e desde então estou sendo tratada por um novo psiquiatra. Com um novo medicamento, o velho e conhecido lítio, usado com sucesso no tratamento bipolar há mais de 50 anos.

Portanto, quando eu digo que a minha vida é cheia de altos e baixos, podem acreditar que não estou exagerando. E sabem de uma coisa? Quase ou tão ruim quanto esta doença é a ignorancia alheia. E foi por isso que decidi escrever este post. Quem sabe um dia as pessoas acordam.